Libras e a empatia
Eduardo Macedo está na thyssenkrupp Autômata, em Taubaté (SP), desde 2001 e atua hoje como coordenador Comercial e de Logística. O profissional conta como aprender Libras, a Língua Brasileira de Sinais, o ajudou a desenvolver melhor a empatia com o ser humano.
Como está sendo a sua trajetória na thyssenkrupp?
Eu cheguei à empresa em 2001, quando era apenas Autômata. Foi meu primeiro emprego na vida. Eu exercia a função de auxiliar de escritório e resolvia muitas questões administrativas: agendava reuniões, emitia notas fiscais e fazia atividades do tipo. Depois de um ano, fui me encantando aos poucos pela parte mecânica da fábrica. Eu ia entregar as notas fiscais na expedição e passava um tempo no laboratório de inspeção admirando, sonhando.
Um dos coordenadores percebeu meu interesse e curiosidade com tudo o que acontecia laboratório de inspeção. Afinal, eu queria entender o funcionamento dos processos e do laboratório. Ele, então, me ofereceu o cargo de inspetor. A empresa investiu em mim e me deu essa oportunidade. Apesar de não ter experiência, participei do processo de recrutamento interno e passei. Na sequência, fiz alguns cursos de desenho, leitura e interpretação de desenho industrial e me tornei inspetor de qualidade. Permaneci nesse cargo por três anos e, como a área foi crescendo e fui cuidando de pessoas, acabei promovido a coordenador de Produção.
Em 2010, o ano em que minha primeira filha nasceu, surgiu uma oportunidade na área Comercial para lidar com atendimento ao cliente e eu abracei esse novo desafio. Há três anos, também passei a coordenar a área de Logística e somei ambas as funções. Juntando tudo, já estou há 22 anos na thyssenkrupp Autômata.
Qual foi o seu maior desafio nessas mais de duas décadas na thyssenkrupp Autômata?
Eu sempre fui muito tímido e, por isso, nunca me imaginei como um líder. Porém, foi algo que aconteceu de forma bastante orgânica e natural. Eu comecei a lidar com as pessoas na Inspeção, o time foi crescendo e precisei desenvolver essa habilidade de cuidar das pessoas. Esse diferencial tem sido um grande destaque na minha trajetória profissional: poder contribuir cuidando do outro.
Além de ter seu trabalho na thyssenkrupp, você é professor de Libras. Como você conheceu a língua oficial da comunidade surda?
Eu tive meu primeiro contato com a Libras em 2001, quando conheci uma pessoa surda e fiquei curioso para entender como ela se comunicava. Desde então, estou desenvolvendo esse conhecimento e tendo esse amor. Porque eu achava que o alfabeto manual já era Libras, mas não! É muito mais profundo do que isso. Durante um ano, vivi e compartilhei experiências com a comunidade surda, que me abraçou e me fez ir além de aprender um idioma e imergir em uma nova cultura. É importante reforçar que a Libras é uma língua que utiliza não apenas as palavras, mas possui estrutura gramatical própria como qualquer outro idioma e as expressões facial e corporal são muito presentes. Sou formado como tradutor/interprete de LIBRAS e aprovado no teste de proficiência. Uma experiência marcante foi quando trabalhei como interprete em uma formatura. Foi incrível poder ver alunos surdos participando integralmente da sua festa!
Como esse conhecimento influencia sua vida?
Descobrir a Libras foi uma jornada muito interessante, porque abriu a minha visão e o meu horizonte para outras questões. Eu fui me encontrando como professor de Libras no decorrer dos anos. Entendi que conhecer essa língua tão especial é ter a oportunidade de verdadeiramente transformar a mente das pessoas. Isso acontece porque muda a sua forma de pensar e encarar o mundo. A cultura surda é totalmente diferente da cultura do ouvinte. Por exemplo: existem expressões idiomáticas em nossa língua, falando e ouvindo, que para os surdos não fazem o menor sentido. É uma cultura diferente. Além disso, trabalhar com surdos muda a sua maneira de pensar. Eu me sinto honrado em enxergar os dois lados, o que me proporciona uma visão diferenciada do ser humano e me transforma em uma pessoa mais empática.
Você já aplicou seus conhecimentos em Libras no seu trabalho na thyssenkrupp?
Sim! Em 2007, fizemos a primeira contratação de uma pessoa surda para atuar na thyssenkrupp Autômata. Foi um desafio, porque tivemos que nos adaptar à linguagem familiar do colaborador. Mas conseguimos ultrapassar as barreiras iniciais e o profissional, que inicialmente era auxiliar de ajustagem, tornou-se um ajustador mecânico e ficou na empresa por nove anos. Atualmente, temos uma profissional surda na área de montagem, atuando no acabamento de peças, com pintura, retoques e tudo mais. Acredito que o meu trabalho na thyssenkrupp é um exemplo de inclusão e respeito à diversidade. Tenho orgulho de fazer parte de uma empresa que proporciona um ambiente de trabalho inclusivo e acessível.